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Storytelling e como utilizá-lo em entrevistas

Até aqui focamos bastante em nos conhecer melhor, olhar nossa trajetória de vida e refletir sobre nossos diferenciais e pontos fortes.

Agora é hora de começar a praticar como contar nossa trajetória de uma forma que nos diferencie da concorrência, chamando a atenção de pessoas recrutadoras e reforçando nossos diferenciais.

Nas próximas duas aulas vamos falar sobre a arte de contar histórias, ou, simplesmente, storytelling.

O que é storytelling e por que ele importa?

Storytelling, ou contar histórias, é uma ferramenta fundamental da comunicação humana. Desde que o ser humano se conhece como tal, a forma de nos comunicarmos uns com os outros e com o que nos cerca foram as histórias.

Contávamos histórias para explicar o mundo (mitos), contávamos histórias como um forte elemento para passar a cultura e comportamentos esperados para as próximas gerações e contávamos histórias como meio de nos conectarmos uns com os outros em volta de fogueiras.

As funções sociológicas e antropológicas das histórias são várias, mas quando falamos de autoconhecimento e processos seletivos, são três os pontos que mais nos interessam:

  1. Histórias nos permitem ressignificar acontecimentos: Quando contamos nossa própria história, isso nos ajuda a conectar os pontos e ressignificar acontecimentos, podendo inclusive impactar o quão felizes nos sentimos. Para saber mais, veja este vídeo.

  2. Histórias nos permitem nos conectarmos em um nível mais profundo com o outro: Inclusive sendo possível fazer essa pessoa sentir o que sentirmos ao vivenciar o fato, quase como se passássemos algo que está no nosso cérebro para o cérebro da outra pessoa (se quiser aprofundar e entender como histórias agem no nosso cérebro, veja este vídeo.

  3. Histórias aumentam a chance de que o que falamos seja lembrado: Existem inúmeras pesquisas no campo da neurociência e da psicologia cognitiva que mostram que histórias se fixam na nossa mente com maior facilidade se comparadas com uma simples lista de informações.

Ficou óbvio que o storytelling é uma poderosa ferramenta para processos seletivos e até para nossa felicidade? Mas como construir um storytelling com nossa trajetória?

Montando um storytelling

O que diferencia uma história de uma leitura de tópicos em um currículo? Os links (conexões)!

Um currículo é um aglomerado de bullet points e experiências. Ler um currículo é “cuspir” fatos e dados para o entrevistador e esperar que ele dê significado para cada um dos pontos abordados.

Para você contar a sua história e valorizar cada uma das experiências, é preciso conectar os pontos.

Uma história é pegar esses bullet points e experiências e, ao mesmo tempo, conectá-los e dar sentido a eles.

O que te levou da experiência profissional X para a Y? Por que você fez essa mudança de carreira aqui? Como aquele acontecimento do passado se conecta com o que você quer hoje? Como aquela experiência na escola, no esporte ou no trabalho voluntário se encaixa com o mundo de programação?

Quando você não faz um link evidente entre os acontecimentos da sua história, o cérebro da pessoa entrevistadora automaticamente vai tentar preencher as lacunas faltantes. Não deixe para a pessoa entrevistadora preencher as lacunas da sua história. Verbalizar as conexões entre os pontos é tão importante quanto falar dos acontecimentos em si.

Não deixe para a pessoa entrevistadora preencher as lacunas da sua história. Verbalizar as conexões entre os pontos é tão importante quanto falar dos acontecimentos em si.

Antes de seguirmos, assista ao vídeo abaixo, que mostra Steve Jobs falando na formatura de uma turma de Stanford! Caso tenha tempo, recomendamos que você assista ao vídeo completo, combinado? Mas, para o tema desta aula em específico, assistir entre os minutos 0:36 e 5:21 já é suficiente :)

vídeo

E aí? O que achou do vídeo?

Percebeu como você se conecta emocionalmente com a história do Jobs e como consegue lembrá-la e reproduzi-la em sua mente? Isso acontece porque ele dá significado e sentido aos acontecimentos e conecta os pontos.

Perceba como ele faz links entre os acontecimentos, deixando tudo elucidado para o ouvinte: como foi parar na família em que parou, por que entrou na faculdade, porque desistiu da faculdade, como a escolha da matéria de caligrafia se conecta com sua profissão, os impactos de cada decisão etc. Isso torna a história fluida, gostosa de ouvir e, ao mesmo tempo, memorável.

A mensagem principal do trecho é que não conseguimos conectar os pontos olhando para frente: só podemos ligá-los olhando para trás. E é isso que vamos fazer agora: explorar a sua trajetória e tentar ligar os pontos.

Transformando sua trajetória em Storytelling

Neste momento, vamos transformar a trajetória que você desenhou em um storytelling. Vamos criar uma história que possa ser contada em processos seletivos, entrevistas ou mesmo em eventos de recrutamento (cada vez mais comuns em empresas e startups). Essa história também pode ser utilizada em vídeos de apresentação, bastante comuns em plataformas de recrutamento e seleção.

Para fins didáticos, vamos preparar uma versão da sua história para ser contada em um prazo de 2 minutos. Não se preocupe: a partir da versão de 2 minutos, e entendendo os conceitos de storytelling, você vai ver como fica mais fácil transformá-la em versões maiores ou menores, se for necessário.

Conteúdo:

O primeiro passo é saber que você não vai conseguir contar a sua vida inteira em dois minutos e, por isso, temos que escolher o que contar. Algumas dicas de como escolher o que entra e o que sai da sua história:

Conquistas

Acreditamos que esse é o conteúdo mais importante no seu storytelling. Lembre-se de que a pessoa entrevistadora quer saber o que você é capaz de fazer. Ela te contrata para entregar resultado (não simplesmente porque você quer um emprego, como algumas pessoas pensam). Você precisa ser capaz de mostrar o que consegue entregar e suas habilidades através das suas conquistas.

Esse bloco é tão importante que investimos a última aula inteira levantando suas conquistas e pensando em pontos fortes, agora é questão de escolher quais contar. Se você não tem tantas experiências e acha que todas cabem em 2 minutos, ok. Caso tenha que priorizar o que contar para caber no tempo, a nossa recomendação é:

Quais conquistas são as mais relevantes para a vaga?

  • Se a vaga é para “Pessoa Desenvolvedora”, contar da sua experiência na Trybe ou de algum programa que desenvolveu é fundamental.
  • Se a vaga exige muita interação com consumidores (para entender suas necessidades antes de desenvolver algo), vale a pena contar uma conquista onde sua habilidade de comunicação foi essencial.

Enfim, pesquise sobre a vaga e escolha as suas conquistas e experiências que mais se conectam com o que a pessoa entrevistadora precisa. No fundo, ela te contrata para resolver um problema e, por isso, você precisa mostrar que é capaz de fazê-lo!

Momentos Marcantes

Momentos marcantes que definem quem você é. Quando uma pessoa recrutadora te contrata, ela está buscando mais do que alguém que vai escrever linhas de código, ela está buscando uma pessoa com quem terá que lidar quase diariamente no trabalho.

Algo que pode ajudar a pessoa recrutadora nessa decisão é permitir que ela te conheça enquanto outro ser humano. Falar de momentos marcantes da sua trajetória é uma forma de fazer isso.

Não tenha medo de escolher momentos marcantes de sua vida que te tornaram quem você é. Isso deixa sua história mais viva e interessante, além de dar informações que ajudam a pessoa que está te entrevistando a te ver como um ser humano completo, que vai além de só alguém capaz de fazer códigos.

Aqui pode entrar, por exemplo, uma história que conte por que você decidiu entrar na Trybe ou por que decidiu seguir essa carreira de desenvolvedor (ao fazer isso, além de mostrar um pouco mais de você, você estará conectando os pontos de por que deseja trabalhar com programação!).

O único cuidado aqui é: pense se os momentos que você pretende contar são apropriados para se falar nos primeiros 2 minutos de conversa com alguém. Talvez esse não seja o momento de falar sobre a morte de algum familiar ou algum assunto muito delicado com o qual você não se sinta confortável, por mais marcante que tenha sido. O momento agora é de despertar curiosidade e fazer a outra pessoa querer te conhecer mais, não de causar desconforto em você e em quem te ouve.

Empatia

Por fim, a chave para decidir o que entra ou não na sua história é a empatia com a pessoa recrutadora. Ou seja, quando ela pede para você contar mais sobre a sua história, o que ela está interessada em saber? Fazer essa reflexão pode ser algo valioso no momento de construir essa resposta através do storytelling.

Formato:

Escolhido o que você vai contar, agora é hora de colocar isso em formato de storytelling!

Para montar uma boa história que faça sentido e ajude você a se destacar, além de início, meio e fim, ela precisa ter três elementos essenciais: Contexto, Ação e Resultado.

Contexto

Significa mencionar onde você estava, com quem, o que pensava, como era o ambiente etc. Isso ajuda a outra pessoa a se conectar com você e aumenta o entendimento. Às vezes as histórias são muito evidentes para a gente e queremos partir direto para o clímax ou momento marcante, mas nos esquecemos de contextualizar a outra pessoa sobre como chegamos lá. O contexto também é importante, pois permite que seu ouvinte construa imagens do ocorrido na sua mente. A construção de imagens é importante para a conexão emocional e, além disso, se torna uma ferramenta poderosa, que pode dar vida a algumas experiências do seu currículo.

Ação

Lembra-se do estudo que vimos na aula passada sobre melhores e piores expressões? Continua válido aqui! As melhores expressões são verbos e falam de ação. O que você fez e como agiu frente ao contexto que acabou de contar? Uma conceito importante aqui é: lembre-se de falar sobre VOCÊ! Vejo muitas pessoas falando “o meu time” e não “Eu”. Óbvio que se você fez algo em time você precisa dizer, não é para pegar méritos que não são seus. No entanto, a pessoa recrutadora não quer contratar o seu time, ela quer contratar você! Assim, se for falar de algo que você fez dentro de uma equipe, explique qual foi O SEU PAPEL.

Resultado

Por fim, ninguém gosta de uma história que não tem final, não é mesmo? Portanto, é muito importante trazer resultados que você teve na sua história. O resultado pode ser um aprendizado ou uma habilidade que você desenvolveu. Se for possível, coloque números no seu resultado… Desenvolveu um app? Quantos downloads teve? Fez uma melhoria em um software que trouxe novos clientes ou aumentou o faturamento da empresa? Quanto?

Para ficar fácil lembrar desses três elementos, recomendamos que você utilize o acrônimo: CAR – Contexto, Ação, Resultado.

Agora que você entendeu os elementos de um storytelling, vamos a mais um conceito: Estruturas.

Uma história pode ter inúmeras estruturas diferentes. A mais tradicional é a estrutura de Linha do Tempo, que nada mais é do que contar em ordem cronológica os acontecimentos escolhidos – lembrando sempre de conectá-los entre si! Conexões servem como link entre os acontecimentos, transformando um monte de dados em uma história.

Outra possibilidade utilizada para contar nossa história é a divisão em grandes Blocos da Vida, como infância, intercâmbio, casamento etc. É importante lembrar que os blocos são relativos, variam de pessoa a pessoa. Para um idoso, por exemplo, os blocos são mais largos, enquanto para pessoas mais novas são menores. Quais são os grandes blocos que te marcaram? Ao invés de pular de acontecimento para acontecimento, nessa estrutura você categoriza sua trajetória em grandes blocos.

Uma outra opção é dar ênfase às Transições, para destacar como as experiências que você teve mudaram a pessoa que você é. Podem ser mudanças no modo de pensar, de cidade ou carreira etc. Esse tipo de estrutura é útil quando você tem um ou dois acontecimentos muito marcantes que dividem sua vida entre antes e depois deles, assim você poderá investir boa parte da sua história contando sobre esse período de transição.

Apresentamos aqui apenas três tipos de estruturas básicas de storytelling, mas existem inúmeras outras. O importante é ter em mente que não existe estrutura melhor ou pior, mas sim estruturas que se encaixam melhor na sua história. Não tenha medo de testar diferentes estruturas na hora de contá-la.

Agora que você entendeu o que deve conter no seu storytelling e como montar um bom formato de storytelling usando os elementos (CAR) e as estruturas (linha do tempo, blocos da vida ou transições), é hora de transformar sua trajetória em um storytelling.

Você vai fazer um Self-Pitch, ou seja, uma apresentação curta de 2 minutos sobre você! Então, enquanto estiver escrevendo seu storytelling, pense no contexto de uma entrevista.

Abaixo, separamos dois vídeos com Pitchs (de 2 minutos cada) para que você possa se inspirar. Os vídeos são interessantes para mostrar que não existe um padrão único de história: cada uma se encaixa melhor em uma estrutura. O desafio aqui é descobrir qual é o formato que se encaixa melhor com a sua história. Não se prenda nas três estruturas que passamos, viu? Fique à vontade para inovar :)

Luisa contando sua trajetória:

vídeo

No pitch da Luisa, é possível identificar que ela era uma arquiteta, mas que queria atuar com Marketing, certo? E ela conta uma história conectando o que ela aprendeu na arquitetura com marketing (lembre que storytelling é sobre conectar os pontos!)

Renata contando sua trajetória:

vídeo

É um bom exemplo de storytelling para mostrar um formato mais criativo, que não segue uma sequência cronológica. Um pitch extremamente bem montado, onde ela pensou em cada palavra que iria usar.

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